CASA PODEROSA DOS FILHOS DE YEMANJÁ

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segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Asé do Ẹ̀kọmi para o Lode ou o Pàdé do Bará feito pelo povo Nagô!


Asé do Ẹ̀kọmi para o Lode ou o Pàdé do Bará feito pelo povo Nagô!

O Ẹ̀kọmi (Ẹ̀kọ) do Lóde é o principal ritual que antecede uma obrigação grande, o assunto desta matéria é demonstrar a sua importância para o culto, infelizmente para alguns templos este ritual não tem mais ocorrido.

O Ẹ̀kọmi consiste em Omi, Epo Pupa e Gbaguda preparado e produzido no inicio da obrigação com a intenção de proteger a feitura de todos os malefícios e feitiços que por ventura soprem em cima do templo.

O ritual para despachar o Ẹ̀kọmi é feito de regra às portas fechadas, com poucos convidados e algumas divindades da Ilé presentes, caso cheguem durante as rezas.

Normalmente o ritual para despachar o do Ẹ̀kọmi decorre um dia antes do toque da festa grande, através do som do Ilú os Alagbes, mais alguns filhos da casa e os Ẹlẹ́gún de cavalos de santos participam.


O Bará é o Òrìṣà conhecido como o senhor dos caminhos, ele é responsável pelo intercâmbio entre o homem e o divino, circulando livremente entre os reinos de cada Òrìṣà concedendo favores entre eles e interagindo entre as divindades, no ritual Nagô temos o Bará Lode que encontra-se na entrada do templo, o Legba e sua esposa a Zina que geralmente ficam na frente dos domínios do terreiro separados das demais divindades, porem já vi estas duas divindades até mesmo com o Lóde ou nos fundos da casa, vai do costume de cada família.

Além do Bará Lóde poderemos encontrar o Bará do Irúnmole, sento para acompanhar a obrigação de cada Ẹlẹ́gún.

É tradição dar as primeiras oferendas para os Bará, além de ser um dos primeiros a comer, até mesmo antes do Òrìṣà dono(a) da Ilé, muitas seguranças e trabalhos são feitos para esta divindade proteger o templo dos males espirituais.


Para executar o ritual do Ẹ̀kọmi os presentes que não estão tomados pelas divindades ficam virados para as paredes, pois não devem olhar o descarrego do Ẹ̀kọmi, apenas os mais velhos e mais antigos do templo possuem permissão para ajudar mantendo o rosto voltado para o centro da obrigação, mesmo assim é a minoria, pois estes rituais poucos podem ajudar.

Raro momento em que se acredita que o Legba possui permissão para entrar no salão e puxar todo o carrego, feitiço, danos e destruição para levar embora.

Por isso é proibido vira-se evitando assim olhar de frente para o Legba, impedindo que ele possa trazer males e ou prejudique os presentes.


Separam-se as divindades de Epo pupa que irão para a rua acompanhando o Ẹ̀kọmi azedo (dendê) e as divindades do Oyin (mel) que ficarão na Ilé oferecendo segurança ao ritual com sua presença.

Dá-se inicio ao ritual do Ẹ̀kọmi com cânticos de louvação ao Òrìṣà Bará.


Alagbe - Èṣù Olóde!


Coro - Èṣù, Èsù Obara làna


Alagbe - Mojúbà Èṣù!


Coro - Bàrà !


Alagbe - Lóde Èṣù!


Coro - Bàrà!


Alagbe - Làna Èṣù!


Coro - Bàrà!


Resenha


Èṣù é o senhor das ruas e o rei do cruzeiro que abre os caminhos.
Reverenciamos Èṣù, abrindo nossos caminhos e nos protegendo.
Èṣù nos protege e nos guarda.


A princípio o templo saúda o Òrìṣà Bará, exalta a sua posição e importância para o culto definindo a sua função.

Digamos que para qualquer caminho que tenhamos que buscar, para vencer, qualquer um terá que passar pelos caminhos do Bará.


Neste momento o Baba-kékeré da Ilé ou a Ìyá-kékeré deposita no centro do barracão o Ẹ̀kọmi do Bará do irúnmole contendo Omi e Epo pupa, mais o Ẹ̀kọmi do sangue dos bichos derrubados para o Bará, a quartinha do Bará e a Ajeum T’Bará, ali os Òrìṣà presentes fecham a roda começam a dançar circulando o Ẹ̀kọmi acompanhando as cantigas.


Cada elemento usado neste ritual possui grande poder e energia vital, coligado à divindade Bará, observe o porquê o uso de cada elemento;


Ẹ̀kọmi do Lóde - Omi, Epo pupa e Gbaguda – preparado com finalidade de puxar os carregos, feitiços ou malefícios que possam prejudicar a obrigação ou a Ilé, sendo que o Epo pupa é um óleo do reino vegetal com poder de movimentar o fogo e com propriedades quentes; A Gbaguda veio da terra e transformou-se num elemento que a maioria das divindades de frente recebem em seu Ajeum, podemos moldar formas e integrar na maioria dos pratos dos orixás de guerra, por isso a Gbaguda é um elemento que representa fartura e comunga com as demais divindades, caso seja necessário travar uma guerra com as divindades para defender a Ilé e a obrigação.


Ẹ̀kọmi de sangue – segura o carrego e elementos negativos como Egun que possam danificar a obrigação que estará finalizando no toque grande. Provavelmente também usado para despachar algum elemento negativo que tenha ficado dos quatro pés ou aves que foram sacrificadas, levando em consideração que o reino animal também possui elementos negativos, desta forma descarregamos os Egun e danos que poderiam ter caídos no templo e o Ẹ̀kọmi segurou.


Quartinha do Bará - vasilha em forma de jarro moldada do barro, representa o Ara-aiye do Bará, como não podemos movimentar o Otá do Bará para a rua, levamos a quartinha representando a própria divindade. No seu interior temos a água, líquido neutro que transporta o elemento vida, comum e usado em qualquer quartinha, o ato de despachar a água da quartinha possui várias finalidades, uma delas é carregar o Bará para a rua e outra é molhar a terra com a sua água preparando a terra para receber o Ẹ̀kọmi.


Ajeum T’Bará – sete Solanum tuberosum (batatinhas miudas) assadas – simboliza a esperteza do Bará relatada num itan de Ifá que ele engana o rei e vence uma aposta . Milho de galinha torrado – o milho possui as propriedades favoraveis para o corpo, especialmente para a saúde, e ao mesmo tempo é um elemento que cresce e prospera na terra, por isso muito bom para representar prosperidade e dinheiro -; E finalmente a pipoca, qualquer orixá pode receber pipoca, quem sabe por que é um produto que cresce ao fogo, não exige muito para que ela possa ser consumida e é muito usada para limpeza ou clareza.


Alagbe - A má a ṣère onífa Èsù abánà dá, a máa sère onífa Èsù abánà dá


Coro - A máa ṣère onífa Èsù abánà dá, a máa sère onífa Èsù abánà dá


Resenha Nós confiamos a Èsù todos os males e carregos, estamos entregando a ele nossos caminhos e agradecemos


Aqui os Òrìṣà tomam a quartinha do Bará e cada um borrifa uma vez a água dela em cima dos Ẹ̀kọmi e Ajeum t’Bará depositados no meio do barracão. Neste ato as divindades descarregam os elementos negativos lhe pertencem em cima daquele Àṣẹ, eliminando o carrego, o ewó e Egun que ali poderiam estar presentes ou foram carregados. Assim passando de mão em mão até finalizar o circulo formado pelas divindades.


Não é comum os Ẹlẹ́gún participarem deste procedimento, porem pode auxiliar os Òrìṣà durante o ritual.


Alagbe - Èṣù adé mi ṣé ṣé mi re


Coro - Bàrà adé mi ṣé ṣé mi re


Alagbe - Èṣù adé mi ṣé ṣé mi Bàrà


Coro - Bàrà adé mi se se mi re


Alagbe - Èṣù já lànà fun wa


Coro - Èṣù já lànà fun Ma lè


Alagbe - Èṣù já lànà fun wa


Coro - Èṣù já lànà fun Ma lè


Alagbe - Lànà Èsù mérin


Coro - Èṣù bęri, Èsù mérin lànà


Resenha


Èṣù me protege e me dá sua força, abre nossos caminhos, bondoso pai dos caminhos, eu o saúdo para abrir nossos caminhos pelos quatro caminhos.


Ao final do processo o Baba-kékeré e a Ìyá-kékeré pegam as vasilhas e entregam para algum Òrìṣà do Epo pupa, deixando alguns livres para pegarem o Ẹ̀kọmi do Lóde, partindo todos para a encruzilhada mais próxima da ilê para despachar o descarrego, nesta encruzilhada aberta coloca-se primeiro a Ajeum T’Bará, logo após o Ẹ̀kọmi em cima da Ajeum T’Bará e despacha a água da quartinha fechando a encruzilhada. Separando o Lode do Bará que fica no centro da encruzilhada do Bará do Irúnmole que despacha num dos cantos da encruzilhada, mas esta sequencia permanecerá entre nossa família, nem tudo tem como ser revelado. Por mais estranho que pareça ver uma divindade sair á rua carregando um Ẹ̀kọmi é natural para nós afinal, estas divindades estão no seu meio ambiente e campo de atuação, mais serenos do que presos em quatro paredes. Como descarrego do Ẹ̀kọmi chega ser perigoso até mesmo para os iniciados que possui um grau elevado, esta função é destinada a algumas divindades que o fazem sem problema algum.


Alagbe - Ä là lùpa o!


coro - Á là lùpa sé máa!


Alagbe - o ṣọ́ ṣọ́ ni pa dó


coro - Gàn gàn gàn ṣọ́ ni pa dó


Alagbe - Àkọ́ rò ṣọ́ ni pa dó


coro - Gàn gàn gàn ṣọ́ ni pa dó


Alagbe - Bara ni Ẹ̀kọmi ṣọ́ ni pa dó


coro - Gàn gàn gàn ṣọ́ ni pa dó


Alagbe - Ògún méje méje


coro - Ara Ògún méje n' Ire o


Alagbe - Ara Ògún méje


coro - Ara Ògún á níre


Alagbe - Ògún bé wò a yìn pàra Ògún ajo, Ògún bé wò a yìn pàra Ògún ajo, Ògún bá ga


coro - Àdé wa rà wàrawàra àdé wá ra


Resenha


Corta o mal, mata o feitiço, nos proteja contra o mal e nos limpe, Ògún dono da cidade Ire, nos protege. Ogun nos protege e nos limpa.


Neste momento os Òrìṣà começam a voltar para dentro da ilê, e se unem aos santos de mel que ficaram no salão. E vão desvirando os presentes, sendo que as Òrìṣà Ìyá vão passando a barra das saias nos Ẹlẹ́gún como se tivesse limpando dos males que ainda por ventura ficaram na ilê. O ritual em si necessita destes elementos para que possa ser executado, apesar do teor sério e muito carregado, ao final todos estão leves e o templo com uma energia muito boa.


O Ẹ̀kọmi é um ritual de grande responsabilidade e energia, algumas casas nem usam mais este procedimento, não sei ao certo porque foram deixando de acontecer, porem no nosso templo ainda mantemos este procedimento que é muito funcional e importante. Acredito que o ritual do Ẹ̀kọmi veio com os negros e foi mantido para segurança das casas que no inicio da sua estruturação tinham mais facilidade para encontrar encruzilhadas e cultuar os Òrìṣà em contato com a natureza.


Outra forma mais simplificada porem eficiente com o mesmo propósito é acontecer o ritual do Ẹ̀kọmi no dia da festa grande, depois dos cortes da feitura, propriamente executado durante o toque da festa grande. Logo depois da reza do Xapanã antes da roda de Igbeji que geralmente é substituída pela mesa de Igbeji tradicional que ocorre antes do toque...




Ẹ̀kọmi – preparado que leva água e alguns elementos ritualísticos que possuem diversas finalidades, usadas na proteção dos templos, seguranças durante os rituais dos orixás ou Egungun.


[ii] Omi- água


[iii] Epo pupa – azeite de dendê


[iv] Gbaguda - farinha de mandioca


[v] Ilú - tambor de duas faces usado pelos Nagô


[vii] Bará Lóde – O assentamento do Bará Lóde fica na porta do templo, seu nome já diz o que mora fora do templo, àquele que fica do lado de fora distante dos Òrìṣà do Yara-bo.


[viii] Legba - O Legba guardião dos templos, das aldeias e casas particulares, e sua esposa, segundo os fon seja Awovi (cujo nome significa "filha do engano" e representa os acidentes), e Ayizan também são consideradas ora esposas, ora mães de Legba.


[ix] Baba-kékeré – Pai pequeno da casa.


[x] Ìyá-kékeré – mãe pequena da casa.


[xi] Ajeum T’Bará – Uma oferenda comum oferecida para ele durante o ritual de feitura.


Por Erick Wolff8


Agradecimento - Luiz Marins

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